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TEMOS QUE MUDAR A FORMA DE COMERCIALIZAR NOSSA SOJA

16 de junho de 2020

O Brasil é hoje o maior produtor e exportador de soja do mundo. Das 120 milhões de toneladas que produzimos anualmente, somente 30 milhões são consumidas no mercado interno e 90 milhões de toneladas são exportadas (75 milhões in natura) e o saldo em forma de farelo. 

O mercado da soja aqui no Brasil é dominado pelas grandes Tradings internacionais (com exceção de algumas nacionais), que contribuem muito no desenvolvimento deste setor do Agronegócio brasileiro. 

Muito disto graças as operações de barter que num resumo simples é a troca de insumos por produto a ser entregue no futuro. 

Isto é importante porque não teríamos recursos financeiros nem créditos suficientes para operacionalizar todo este complexo sistema.

Deveremos continuar crescendo pois nosso principal comprador (China) tem uma fome insaciável (graças a Deus), mas o mais importante deste crescimento que se intensifica, é que não precisaremos necessariamente desmatar. Poderemos crescer de forma muito sustentável, somente com o reaproveitamento de áreas com pastagens degradadas, sem prejuízo da produção de carnes.

Os preços da soja no Brasil são formados através das cotações do produto na Bolsa de Chicago mais o prêmio e taxa de dólar. 

Para cada grão de soja adquirido aqui pelas Tradings, volume igual do produto é vendido na Bolsa de Chicago (Hedge). Lógico, estas empresas precisam se proteger contra a variação dos preços dos grãos.

O maior volume de Hedge de soja feito atualmente na Bolsa de Chicago é oriundo das operação de compra de produto físico do Brasil. Por ai você vê a dimensão e  importância da produção brasileira.

Até pouco tempo atrás, as cotações da bolsa de Chicago eram o protagonista da formação dos preços aqui, porém os tempos mudaram e hoje o “prêmio” e a “taxa do dólar” tem importância tão significativa quanto as cotações na bolsa.

Muitas vezes o conjunto prêmio e taxa dólar se tornam até mais importantes, ou seja, quando existe escassez localizada (falta de soja no Brasil para atender a demanda Chinesa) o prêmio sobe, ou pela fragilidade da moeda brasileira, que tem tido oscilações grandes e frequentes oriundos da instabilidades políticas internas e baixas constantes na taxa Selic, que desvalorizam muito o real.

Toda vez que o real é desvalorizado (temos o hábito de sempre pensar que o dólar se valorizou), os produtores brasileiros vendem muito soja em reais, pois os preços da soja no mercado interno aumentam na mesma proporção.

As Tradings que adquiriram este produto precisam obrigatoriamente vender volume equivalente na Bolsa de Chicago (Hedge). 

Por sua vez existem agentes, os grandes especuladores (fundos de investimento principalmente) que atuam neste mercado. Eles desenvolveram programas (algoritmos) que fazem operações de vendas automáticas na Bolsa quando, quando o dólar sobe, porque sabem que ocorrerão vendas dos produtores o que obrigará as tradings venderem em Chicago (Hedge). 

O volume destas operações especulativas na Bolsa de Chicago são muito maiores do que as operações de Hedge. Somadas eles ocasionam quedas significativas na bolsa. 

Assim, a cada baixa temos que esperar um tempo considerável para a Bolsa se recuperar (as bolsas caem de elevador e sobem de escada).

Ando participando muito de algumas salas de produtores no whatsapp. Fico impressionado com o volume de informações que transitam lá, na sua grande maioria compartilhando boas e necessárias informações para melhorar a produtividade, mas raramente vejo algo relacionado com comercialização. Temos que cuidar desta parte também, não adianta produzir bem e vender mal.

Porém, já observo tímidas, mas importante mudança de atitude por parte de alguns, que me procuram indagando quais as melhores alternativas para uma melhor comercialização.  

 

TEMOS QUE MUDAR A FORMA DE COMERCIALIZAR !

 

Deveríamos vender no mercado interno, somente quando o somatório de Chicago + prêmio (valor da soja em dólar) estejam num patamar interessante, ou seja em alta (com exceção das vendas para receber em 72 horas). Com cláusulas que permitissem ao vendedor fixar a taxa do dólar futuro, quando lhe convier, em parcelas. 

Sei que talvez nem todas as Tradings queiram comercializar assim, mas temos que convence-las porque isto não interfere em seus resultados e a segurança dos negócios sempre são melhores com produtores que se encontram solidificados e fortes.

Nos casos em que o dólar subir muito (como aconteceu nos últimos meses, batendo em quase R$ 6,00) e não tiver sido ainda feita a venda do físico (que permitisse a fixação da taxa), as operações de NDF (venda de dólar futuro) são as recomendadas. 

Desta forma, aproveitamos um dólar alto sem ter vendido o produto físico, que deverá esperar um preço melhor em dólares para vender, e será uma maneira, talvez a única, de desestimular os especuladores a venderem o que seria muito bom para os preços da soja.

Muitos produtores entendem que fazer uma operação de NDF é especulação e não proteção. Especulação é vender soja em R$ a preço fixo para receber em março ou abril do ano que vem, sem ter nem plantado a soja ainda. Pode dar certo, mas se der errado os resultados numa única safra são muito danosos e podem impactar a continuidade da atividade.

Além disto as operações de vendas de safra nova, estão prejudicando o mercado, porque não é o comprador que está querendo comprar mas sim o vendedor que procura vender freneticamente, derrubando a bolsa e os prêmios .

Na safra velha já se estabeleceu a escassez e os vendedores estando mais contidos. Desta maneira os prêmios  já estão acima de Usd 1,20 p/bu. Contudo na safra nova, devido a intensificação de vendas o prêmio  está sendo negociado a Usd 0,20 p/bu.

 

A diferença de Usd 1,00 p/bu equivale a Usd 2,20 por saco ou mais R$ 10,00 por saco. PENSEM NISTO !

 

 

João Birkham - CEO do SIM Consult , plataforma de precificação de soja e milho.

 

 

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